quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Hugo Chavez o Negociador

Paulo César Manduca
NEE-Unicamp, setembro de 2007.

Desde de agosto o governo da Colômbia vem aceitando a participação de Hugo Chávez na negociação para a libertação de prisioneiros (ou devolução de seus corpos) juntos às FARC.

Isso é uma verdadeira guinada na postura tradicional colombiana que sempre recusou qualquer forma de intermediação no trato com o grupo guerrilheiro.

Um encontro em 31 de agosto entre Álvaro Uribe e Hugo Chávez, entremeado com telefonemas do presidente francês Nicolás Sarkozy selou esse pacto.

Ao que tudo indica, as gestões do novo governo francês junto ao governo colombiano em relação ao problema dos prisioneiros das FARC surtiram efeito e levaram o presidente Uribe, a contragosto, a aceitar a ajuda do presidente Chávez.

Movido por uma intensa campanha pela libertação de Ingrid Betancout em França, Sarkozy não vem medindo esforços no sentido de pressionar o governo colombiano que, acuado pela pouca capacidade de solucionar a crise, acabou mudando de postura. Na contas de Uribe, pelo menos se pode dividir a responsabilidade pelo eventual fracasso das negociações com Sarkosy e com o próprio Chávez.

Ingrid Betancourt foi seqüestrada em fevereiro de 2002 durante sua campanha presidencial por um partido de centro-direita. Ela tem a cidadania francesa. A publicação de sua biografia na França (que vendeu cerca de 300 mil exemplares) a elevou à categoria de uma quase Joana D`Arc e a opinião pública francesa está fortemente sensibilizada pelo seu drama.

Essa involuntária reação em cadeia da eleição de Sarkozy na França veio colocar nova tintura na desbotada política sul-americana e particularmente nas relações Colômbia-Venezuela que se deterioraram muito com a revolução bolivariana e com a diplomacia secreta venezuelana para com os grupos guerrilheiros de esquerda da região. Inesperadamente, Chávez foi alçado a uma situação que por esforço próprio na havia conseguido atingir.

Ao tornar-se mediador entre as FARC e o governo colombiano, Chávez adquire um novo status no cenário regional. De forma que, se o presidente venezuelano já era pedra angular em toda a sorte de questões da agenda política e econômica sul-americana nos últimos anos - incluindo as questões relativas à integração econômica e energética – a evolução dos fatos pode tornar a Venezuela determinante também no cenário de um dos mais antigos conflitos sul-americanos e, conseqüentemente redefinir os termos das relações bilaterais.

Vale ressaltar que mais de uma vez o Brasil se recusou a classificar as FARC como grupo terrorista com vistas a ser uma ponte entre Estado e guerrilha. O atual governo do Brasil chegou a insinuar-se como um negociador da crise colombiana sem jamais ter sido reconhecido como tal.
Além de Sarkozy, quem mais contribuiu para isso foram às próprias FARC que aceitaram de bom grado a interferência de Chávez numa mostra de que há mesmo uma forte inclinação entre eles.

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